A leucemia linfoblástica aguda (LLA) é o câncer mais prevalente da infância, tendo sido responsável pela grande maioria dos óbitos relacionados a câncer nessa população até a década de 1960. Dentre todos os tipos de leucemias, a LLA é o subtipo mais comum (75-80%) e se caracteriza por uma reprodução desgovernada de células da linhagem linfóide, derivadas de uma mutação nas células progenitoras, nos seus diversos estados de maturação.
A grande incidência da LLA ocorre entre 2 e 5 anos de idade, mas a sua origem permanece mal esclarecida. Sugere-se, através dos estudos com gemelares, a possibilidade de mutações iniciais intraútero, com gatilhos posteriores secundários a fatores ambientais, como resposta imunológica a infecções (virais e bacterianas) e exposição à radiação ionizante e químicos, como pesticidas e benzeno.
Uma criança que apresentar sinais e sintomas suspeitos de LLA, como dor nos membros inferiores, palidez cutânea, febre intermitente, apatia, manchas arroxeadas na pele, deve ser prontamente encaminhada para um serviço especializado em oncohematologia pediátrica para receber seu diagnóstico o mais precocemente possível e iniciar seu tratamento. Esse paciente, e também sua família, vão iniciar assim o longo caminho em direção à cura.
O tratamento das LLAs dura em média 30 meses, sendo este mais agressivo nos meses iniciais. Pode estar presente também neste caminho, para em torno de 10% dos pacientes, a realização do Transplante de Medula Óssea (TMO), como consolidação do tratamento quimioterápico recebido.
Apesar do avanço no tratamento, apenas 30-50% das leucemias atingiam a remissão até meados dos anos 60. Devido a esta grande repercussão, foi também o primeiro tipo de câncer disseminado a receber grandes investimentos em pesquisa, principalmente na Europa e nos Estados Unidos, e a encontrar assim a cura através da quimioterapia. Esses países vivenciaram, no início deste século XXI, uma melhora significativa na sobrevida dessas crianças, e alcançaram taxas de sobrevida acima de 90%.
No Brasil, nossos índices de sobrevida giram em torno dos 70%. Como Oncohematologista pediátrica esses números sempre me incomodaram. Por muito tempo me perguntei porque, mesmo aplicando o mesmo protocolo de tratamento que se utiliza na Europa, não alcançamos os mesmos índices de cura. Com o tempo fui entendendo que o que está por trás desses índices é um somatório de fatores.
Para poder aproximar nossos índices aos países desenvolvidos, precisamos buscar uma maior equidade no tratamento oferecido. É preciso melhorar nossa educação, nutrição e o acesso aos serviços de saúde, realizando o diagnóstico mais precocemente e reduzindo nossas taxas de infecção.
Além de todos esses fatores, precisamos falar também do acesso às novas drogas. Vivemos uma mudança de paradigma e uma revolução no tratamento das LLAs. A quimioterapia tradicional vem dando espaço aos novos tratamentos como a imunoterapia, terapia alvo e a terapia gênica.
No nosso país estamos vivenciando essas transformações, tanto com a aprovação do novo Protocolo Brasileiro para tratamento das Leucemias na Infância (GBTLI 2021), com a inclusão de um grande número de pacientes nesse estudo, quanto com a aprovação de novas drogas pelo SUS, como o Blinatomumab, já incorporado no Sistema Único de Saúde e que em breve estará disponível gratuitamente para o paciente que necessitar da terapia.
Podemos seguir aqui listando um grande número de fatores que podem melhorar nossos índices. Porém, essa melhoria depende não só das políticas públicas de saúde e de educação, mas de um grande movimento da sociedade em geral. Precisamos participar ativamente dessa revolução!
Fonte: A Tarde
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