O atual conflito entre Israel e Hamas, que teve início em 7 de outubro após ataques terroristas do grupo islâmico em território israelense, já é o mais mortal da história de Gaza e o que mais vitimou israelenses nos últimos 50 anos. As raízes da disputa remontam à Primeira Guerra Mundial (1914–1918).
O conflito tem sido o principal assunto nas redes; junto de imagens gráficas da violência, circula também conteúdo desinformativo que busca causar pânico moral e fomentar a polarização. Boa parte dos posts enganosos e mentirosos desconsidera o cenário político ou omite pontos do conflito.
A fim de explicar o histórico entre Israel e Palestina, Aos Fatos organizou o guia a seguir:
1. COMO COMEÇOU O CONFLITO ATUAL?
No último dia 7 de outubro, o grupo extremista islâmico Hamas bombardeou diversas cidades israelenses em uma ofensiva tratada como uma operação de retomada de território. Além de disparar cerca de 2.200 mísseis — número citado por autoridades israelenses —, o grupo invadiu as fronteiras do país, assassinou civis e levou reféns.
Em resposta aos ataques, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, anunciou que o país estava em guerra e ordenou o bombardeio da Faixa de Gaza. Até o momento, os ataques levaram à morte de 5.791 palestinos e 1.402 israelenses. Segundo a ONU, apenas durante a primeira semana de conflito, metade da população de Gaza — quase 1 milhão de pessoas, o equivalente à população de Maceió — foi obrigada a se deslocar.
Confira abaixo os principais acontecimentos após os ataques iniciais:
- No dia 8, o grupo armado xiita libanês Hezbollah disparou mísseis contra três regiões israelenses. Desde então, ocorreram outros ataques na fronteira entre os dois países, que levaram Israel a evacuar a população da região;
- No dia 9, autoridades israelenses impuseram aos cerca de 2 milhões de palestinos um bloqueio total de água, comida e energia até que os reféns fossem liberados pelo Hamas;
- No dia 12, Israel emitiu um comunicado para que a população palestina se deslocasse para o sul da Faixa de Gaza em 24 horas, indicando a iminência de um ataque no norte da região;
- No dia 15, o presidente da ANP (Autoridade Nacional Palestina), Mahmoud Abbas, condenou as ações do Hamas e afirmou que o grupo não representa a Palestina;
- No dia 17, uma explosão em um hospital de Gaza deixou centenas de mortos e feridos. O Hamas atribuiu a autoria dos ataques a Israel, que negou ter realizado o bombardeio. De acordo com autoridades israelenses, o incidente teria sido causado por um foguete lançado pelo grupo extremista Jihad Islâmica que teria se desviado de seu alvo. Isso, no entanto, não foi confirmado;
- No dia 18, após negociações com atores internacionais como Brasil, Estados Unidos e Egito, Israel anunciou a criação de uma região segura no sul de Gaza para fugitivos do conflito;
- Também no dia 18, o Conselho de Segurança da ONU barrou um texto proposto pelo Brasil que condenava os ataques terroristas do Hamas e pedia o fim do bloqueio à Faixa de Gaza. Os Estados Unidos, que têm poder de veto, foram os únicos a se manifestar contra a proposta;
- No dia 21, foi autorizada a entrada do primeiro comboio de ajuda humanitária em Gaza;
- No dia 22, o Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) alertou que 120 bebês em incubadoras estariam em risco devido ao fim do suprimento de combustível em Gaza;
- No dia 24, o secretário-geral da ONU, António Guterres, afirmou estar preocupado com as violações de direito humanitário internacional que ocorrem na Faixa de Gaza. “Proteger civis não pode ser nunca os mandar para o sul onde não há medicamentos, não há combustível, não há comida e nem água e então continuar bombardeando a região”. Declaração similar havia sido dada por relatores da ONU no dia 19;
- Também no dia 24, a OMS (Organização Mundial da Saúde) informou que dois terços das instalações de saúde de Gaza não estão mais conseguindo operar. Segundo autoridades de saúde palestinas, a causa é a falta de combustível e eletricidade. Também por falta de combustíveis, a ONU afirmou que a ajuda na região pode se encerrar amanhã.
2. POR QUE O HAMAS ATACOU ISRAEL?
O confronto atual remete a uma disputa de território que já perdura há décadas:
- Localizada entre o rio Jordão e o mar Mediterrâneo, a Palestina é considerada sagrada pelo cristianismo, pelo judaísmo e pelo islamismo. Até a Primeira Guerra Mundial (1914–1918), o território estava sob domínio do Império Otomano, mas depois foi repassado ao Reino Unido;
- Durante a Primeira Guerra, os britânicos prometeram aos árabes a criação de um Estado independente e aos judeus a criação de uma nação na Palestina. Isso levou a uma disputa interna entre as duas comunidades durante o controle britânico da região;
- O movimento sionista ganhou força após a Segunda Guerra Mundial (1939–1945), principalmente em razão do Holocausto;
- Dois anos após o final da guerra, a ONU propôs, por meio da resolução 181, a criação de dois Estados — um árabe e um judeu — na região, sendo que Jerusalém seria um território separado governado por um regime internacional. A proposta foi aprovada por 33 votos favoráveis, contra 13 contrários e 10 abstenções. Os árabes, no entanto, foram contra a divisão, e o plano nunca foi implementado na prática;
- Desde então, a região foi palco de diversos conflitos, como a Guerra dos Seis Dias, em 1967, quando Israel ocupou a Faixa de Gaza e anexou territórios do Egito e da Síria, e a Guerra do Yom Kippur, em 1973. Também houve diversas tentativas frustradas de acordos entre palestinos e israelenses;
- Em 1994, o Acordo de Oslo — firmado entre Israel e a entidade multipartidária OLP (Organização para a Libertação da Palestina) — cria a ANP (Autoridade Nacional Palestina), para representar um governo de transição até que fosse estabelecido o Estado Palestino. O acordo também previa que Israel iria retirar suas tropas da Cisjordânia e de Gaza, mas isso não ocorreu;
- A organização islâmica Hamas, criada em 1987, durante o levante palestino contra a ocupação de Israel na Cisjordânia e na Faixa de Gaza, no entanto, se opôs ao Acordo de Oslo e, desde então, tem realizado ataques contra Israel. Sua principal bandeira é a criação de um Estado islâmico no território e a extinção do Estado de Israel;
- Desentendimentos entre o Fatah, partido que lidera a ANP, e o Hamas fizeram com que o território palestino se dividisse em duas regiões a partir de 2007 (veja abaixo): a Cisjordânia, governada pela ANP, e a Faixa de Gaza, controlada pelo Hamas;
Fonte: Aos Fatos
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