Cultura agrícola forte na Bahia, a laranja é mais um alimento que faz sucesso no São João, usada diretamente para consumo ou para fazer sucos e bolos. A expectativa é que o estado produza 634.282 toneladas da fruta na safra 2023, em uma área colhida de 50 mil hectares, segundo o Levantamento Sistemático da Produção Agrícola (LSPA) realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O estado mantém, assim, sua posição de quarto maior produtor nacional de laranja.
Quase 80% da produção cítrica baiana é da variedade pêra e aproximadamente 70% dos pomares do estado estão localizados no litoral norte, em uma região de fronteira com Sergipe (quinto maior produtor do Brasil). O município de Rio Real, que em 2021 registrou 247.773 toneladas produzidas, é o maior produtor da Bahia, de acordo com o IBGE. Outras cidades que se destacam no estado em relação à laranja são Inhambupe, Itapicuru e Esplanada.
Gabriel Menezes, gerente da Federação da Agricultura e Pecuária da Bahia (Faeb), destaca que a cultura da laranja é de extrema importância econômica para o estado. “Do ponto de vista econômico, a produção da laranja é extremamente interessante porque a fruticultura acaba empregando muita gente, então quando a gente fala em uma propriedade produtora de laranja, você tem certeza que ali tem muita mão de obra empregada, sabe? Então isso é muito interessante, né? Porque quanto mais mão de obra, mais geração de emprego e obviamente de renda que circula naquele município e mais pessoas ficam na cidade, o que é muito importante”.
Menezes reforça que, de maneira geral, a produção de laranja gera muito emprego direto e indireto também com a grande questão de processamento da indústria de suco que existe na Bahia, sendo um estado que tem característica favorável para o cultivo da fruta, destacando ainda que os agricultores oriundos da agricultura familiar também são muito importantes para essa cultura.
Ademais, o gerente da Faeb acredita que a Bahia deve seguir desenvolvendo e aumentando sua produção de laranja nos próximos anos, principalmente se as chuvas forem favoráveis e com o auxílio das tecnologias adquiridas através da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), que entrega inovação e tecnologia e que faz os produtores produzirem mais na mesma área em que se plantava anteriormente.
“A Embrapa ajuda a disseminar esse tipo de tecnologia assim como o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) na assistência técnica, que pega exatamente esse conhecimento da Embrapa e repassa para os produtores através da assistência técnica gratuita para todos. Está chegando aqui na Bahia esse tipo de coisa (tecnologias), né? Plantio direto, novas técnicas, sementes melhoradas, mudas melhoradas no caso da laranja, para justamente produzir mais precisando de menos água, com resistência a ataque de pragas e doenças, isso já é utilizado independente do tamanho do produtor e ajuda bastante a impulsionar as culturas”, pontua Menezes.
O superintendente de Política do Agronegócio da Secretaria de Estado da Agricultura e Desenvolvimento Rural da Bahia (Seagri), Claudemir Nonato, reforça que o Programa de Desenvolvimento Territorial do Banco do Nordeste, que incorpora um conjunto de estratégias com objetivo de potencializar a competitividade das atividades produtivas regionais, deve ser um fator importante para desenvolver ainda mais a produção de laranja no estado.
“Com esse Programa Territorial do Banco do Nordeste, com o qual estamos colaborando, também há uma perspectiva muito boa da gente retornar melhor com a produção de citros na Bahia, no Oeste, produzindo também muito limão, já que quando se fala de citros falamos de limão, laranja, tangerina”, diz Nonato.
Resistente às doenças
Mari Anna Batista, (@Mari.Anna.Batista no Instagram), é produtora de laranja pêra-rio, em sistema irrigado e intensivo, na cidade de Inhambupe na Bahia. Ela ressalta que um dos pontos positivos nos quais o estado vem se destacando na produção de laranja é na resistência às doenças.
“A citricultura baiana é promissora por vários fatores, seja pela qualidade de nossas terras, pelo índice pluviométrico registrados nos últimos anos, e pela situação sanitária do nosso estado ser livre das principais doenças dos citros, como: Cancro Cítrico, Leprose, e a principal delas, o Greening (HLB), uma doença bacteriana que vem assolando os maiores parques citrícolas do mundo, como a Flórida (EUA) e o cinturão citrícola paulista”.
A produtora ainda destaca que as perspectivas para o setor são ótimas, porém com ressalvas. Ela diz que avaliando a produção e produtividade baiana, facilmente pode-se notar o aumento muito significativo na produção e na produtividade por hectare, e que isso é graças ao profissionalismo que os produtores vêm adotando nessa última década, em maior intensidade a partir de 2017, seja na escolha dos melhores materiais genéticos para plantio, associados ao adensamento, ou no uso das melhores tecnologias, insumos e maquinários empregados no processo produtivo.
Mari Anna acredita também que é primordial para o cenário local que a visão dos empresários das fábricas de suco de laranja se estenda ao movimento da citricultura baiana, pois isso representa uma grande oportunidade para o Nordeste.
“A liderança mundial na produção de citros e de produção e exportação de suco de laranja é brasileira, e está concentrada no estado de São Paulo e no triângulo mineiro. Porém, essa mesma região há anos vem sofrendo com a intensificação das doenças cítricas, no mesmo passo que nossa citricultura baiana vem crescendo exponencialmente. A Europa é o continente que mais consome suco de laranja brasileiro e nós aqui na Bahia, além de termos uma citricultura linda se formando, estamos quase 1.500 quilômetros mais próximos do Porto de Rotterdam, que é o maior do mundo, se comparado com o Porto de Santos, e isso seria a grande oportunidade para a citricultura baiana e todo o nordeste brasileiro”.
Além disso, a produtora explica que a laranja pêra se destaca na Bahia pois é uma variedade que se adaptou bem a níveis produtivos com as condições edafoclimáticas (características do ambiente) baianas e é considerada uma fruta de dupla aptidão, boa para suco quando fala-se em escala industrial, para o seu processamento em suco concentrado, e também muito bem aceita para o mercado de fruta de mesa, que é a fruta que se compra para consumo in natura.
“Dessa maneira o produtor, com a variedade pêra, consegue de acordo com seus objetivos enquanto empresário rural, focar o seu trabalho para a linha de frente que desejar, direcionando suas laranjas tanto para indústria ou para a fruta in natura”, esclarece Mari Anna.
Fonte: A Tarde
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