A morte de Maria Alice dos Santos Nascimento, de 43 anos, cujo principal suspeito é o ex-companheiro, tornou-se mais uma na dura estatística de violência contra a mulher na Bahia. Entre janeiro e 5 de novembro deste ano, o estado registrou 78 casos de feminicídio, de acordo com a Polícia Civil. O número é equivalente a 7,8 assassinatos de mulheres por mês.
No mesmo período do ano passado, foram computados 90 feminicídios, o que significa uma redução de 13,3%. Feminicídios são mortes de mulheres apenas por serem mulheres, em casos que envolvem violência doméstica e familiar, menosprezo ou discriminação à condição de mulher da vítima.
O relatório Elas Vivem, organizado pela Rede de Observatórios da Segurança em 2022, registrou que a Bahia é o estado do Nordeste com maior índice de violência contra a mulher. Larissa Neves, pesquisadora e organizadora do projeto, afirma que 75% dos feminicídios são cometidos pelos companheiros das vítimas.
“É muito importante que as mulheres conversem sobre o que sentem. Que elas tenham ali pessoas de confiança para sinalizar o que ela está passando. Elas precisam externalizar, porque muitas vezes a gente naturaliza esses ciclos da violência, justamente porque a gente não sabe que isso é violência. A gente acredita que isso faz parte da relação e acaba não falando, porque nós temos vergonha de dizer e sinalizar que estamos sendo controladas”, diz a pesquisadora.
Apenas em Salvador e Região Metropolitana, foram cinco tentativas de feminicídio com arma de fogo em 2023, das quais quatro mulheres morreram e uma ficou ferida, segundo dados do Instituto Fogo Cruzado.
Julieta Palmeira, antiga Secretária de Políticas para Mulheres e membro da União Brasileira de Mulheres, defende a necessidade de executar melhor as políticas existentes para a proteção das mulheres. “É preciso ampliar o número de delegacias especializadas, fazer valer a lei que dá celeridade às medidas protetivas e fortalecer os serviços locais de acolhimento às mulheres em situação de violência, as redes de acolhimento”, diz.
Relembre casos de feminicídio registrados este ano
- Sara Mariano, 35
A cantora gospel e pastora Sara Mariano, de 35 anos, dada como desaparecida desde o dia 24 de outubro, foi encontrada morta no dia 27 do mesmo mês, perto de Dias D’Ávila, na Região Metropolitana de Salvador. Os restos mortais estavam carbonizados e em um matagal ao lado da BA 093, e o corpo foi reconhecido pelo marido, Ederlan Mariano. No mesmo dia, ele foi preso pela autoria do crime.
- Raquel da Silva Almeida, 34
No dia 24 de setembro, Raquel da Silva Almeida, de 34 anos, foi morta a facadas pelo marido dentro de sua casa, no bairro de Massaranduba, em Salvador. Ela foi encontrada com diversos ferimentos pelo corpo. O filho dela, um menino de 11 anos, também foi ferido com golpes de arma branca.
- Simone Maria Santos, 51
Na manhã do dia primeiro de maio, a enfermeira Simone Maria Santos, de 51 anos, foi morta a pedradas em sua casa, no quarto andar do Edifício Porto do Sol, na Rua Arthur D’Almeida Couto, em Salvador, pelo homem com quem estava casada há 30 anos e tinha dois filhos já adultos. Descrita pelos colegas como generosa e discreta, Simone trabalhou como técnica de enfermagem por 17 anos, até ter sua vida interrompida precocemente.
- Natalina Silva, 37
No dia 25 de abril, Natalina Silva, de 37 anos, teve sua casa invadida e foi morta pelo ex-companheiro. O crime aconteceu no bairro da Liberdade, e o homem foi preso em flagrante. Ele não aceitava o fim do relacionamento e, além de atacar a vítima com golpes de faca, ele ainda atingiu o genro dela.
- Ana Paula Brito Pimenta, 46
Também em abril, Ana Paula Brito Pimenta, de 46 anos, foi vítima de agressões antes de ser morta pelo ex-companheiro, no bairro da Liberdade, em Salvador. A vítima chegou a ser socorrida e ficou internada em uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Salvador, onde teve a morte cerebral confirmada no dia 20 do mesmo mês.
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