Desde que o contador Robério Pereira Júnior, 41 anos, instalou o sistema de energia solar na casa da Chapada Diamantina, em março, as contas de luz de dois imóveis no Vale do Capão estão em tarifa mínima e outros dois na capital tiveram redução de mais de 50% na despesa. No ano passado, a Bahia registrou crescimento de 137% nas conexões desse tipo de energia, e nesta quinta-feira (28) um evento vai discutir as questões que envolvem o sistema. Os ingressos estão esgotados.
A ideia de instalar painéis de energia solar em casa surgiu no ano passado. Robério conhecia algumas pessoas que tinham adotado o modelo e resolveu pesquisar mais sobre o assunto. Em novembro, ele entrou em contato com uma empresa especializada, comprou os equipamentos e, em março, os painéis solares foram colocados no telhado da casa, no Vale do Capão.
“Em Salvador, eu moro em prédio, então, é mais complicado para fazer essa instalação. Coloquei na casa da Chapada Diamantina e tudo o que é produzido de energia é abatido nas contas de luz registradas com meu CPF. São quatro imóveis, dois no interior e dois em Salvador. Em média, o sistema produz aproximadamente 850 kw/h mês e o consumo dos quatro imóveis está um pouco acima, algo em torno de 900 kw/h mês”, conta.
A produção cobre os custos da conta de luz das duas casas no interior, por isso, ele paga tarifa mínima por esses imóveis, enquanto as contas dos dois apartamentos da capital foram reduzidas abaixo da metade. Mas Robério afirma que a mudança foi motivada também pela preservação do meio ambiente. “A produção de energia limpa faz parte de nossa cultura familiar. Minha irmã, que é minha vizinha, também implementou. Nós tratamos os resíduos do vaso sanitário por meio de Bacia de Evapotranspiração e as águas cinzas com caixa de gordura, filtro e círculo de bananeira”, explica.
Apesar dos benefícios, o investimento nesse modelo ainda é alto no Brasil. Robério desembolsou cerca de R$ 37 mil, e pelos cálculos do contador o retorno ocorrerá em 4 anos. O principal fator que tem levado os consumidores a optarem pela energia solar são os aumentos na conta da energia elétrica. A aposentada Rosana Silva, 61, mora na Pituba e instalou os painéis solares em junho.
“Minha conta estava vindo em torno de mil reais, teve um crescimento absurdo nos últimos meses. Com essas placas eu vou pagar 10% desse valor, então, será uma economia significante”, afirmou.
Robério e Rosana fazem parte dos 17.072 consumidores baianos que adotaram a energia solar, em 2022, segundo dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). No ano passado, foram 23.927 conexões, enquanto em 2020 foram 9.827 casos, o que representa crescimento de 137%. Das 56.940 conexões existentes na Bahia, 44,2 mil são residenciais.
Essa mudança de hábito tem feito o estado subir no ranking de geração de energia solar do país. É atualmente o quinto, atrás de São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Mato Grosso.
Debate
Para tratar do tema, acontece hoje o Absolar Meeting Nordeste, em Salvador. Em nota, a Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar), responsável pelo evento, afirmou que a produção na Bahia proporcionou mais de R$ 2,6 bilhões em novos investimentos na região e que o uso da tecnologia fotovoltaica em telhados e pequenos terrenos gerou 14,6 mil empregos e arrecadação de R$ 640,4 milhões aos cofres públicos.
“Somente em Salvador, os projetos fotovoltaicos foram responsáveis por cerca de R$ 213,1 milhões em investimentos privados, cerca de 1,2 mil empregos gerados e uma arrecadação de R$ 60,1 milhões aos cofres públicos. A cidade possui 39,9 MW de potência instalada de energia solar, que atendem mais de 5 mil unidades consumidoras”, diz a nota.
O encontro vai reunir empresários, consultores, autoridades públicas e especialistas para debater oportunidades e desafios para geração de energia solar e questões ligadas a legislação, tributação, logística e conexão. Serão discutidos também financiamento, inovação e desenvolvimento tecnológicos para a região Nordeste.
O poder público tem adotado medidas para incentivar os consumidores a buscarem fontes de energia mais limpas. A Prefeitura de Salvador criou o programa Salvador Solar, que mapeia o potencial dos telhados da cidade e oferece descontos de até 10% no IPTU dos imóveis e 60% no Imposto Sobre Serviços (ISS).
Já a Lei de Incentivo à Energia Solar desburocratiza e desonera empresas que adotam o modelo e impulsiona o desenvolvimento de energia fotovoltaica por meio de incentivos fiscais. Prédios municipais estão recebendo painéis solares e existe também capacitação de mão de obra local para atuar na área de instalação e manutenção dos sistemas.
Procurada, a Secretaria de Desenvolvimento Econômico da Bahia (SDE), responsável pela energia solar no estado, não se manifestou. A Coelba, concessionária que administra o fornecimento de energia, também não se pronunciou.
Esclareça dúvidas com especialista:
O CEO, instrutor e engenheiro eletricista da CENGET Engenharia, Caio Cesar Sá, esclareceu dúvidas que envolvem o processo de instalação do sistema de energia solar. A empresa atua em Salvador e no interior do estado. Confira:
Quais as vantagens do consumidor que adota o sistema de energia solar?
A redução de até 95% no valor da conta de luz e a preservação ambiental. As hidrelétricas, que são a principal fonte de energia do nosso país, são muito mais agressivas ao meio ambiente. A energia solar não produz sujeira e nem barulho, e a durabilidade é de 40 anos.
É possível aproveitar a produção de energia em mais de um imóvel?
Sim, desde que as contas estejam no mesmo CPF ou CNPJ. O consumidor pode instalar os painéis em qualquer área de atuação da concessionária, no caso da Bahia a Coelba atende o estado inteiro. A gente tem feiro muitas instalações na Linha Verde para pessoas que moram em Salvador.
Alguns clientes pagaram mais de R$ 30 mil pela instalação, por que é tão caro?
A maioria dos equipamentos são importados. Os painéis solares, por exemplo, são produzidos na China, isso encarece, mas o valor depende do perfil do cliente. O consumo vai determinar a quantidade de painéis e isso impacta no valor, assim como o local onde será feita a instalação, se no solo ou no alto. São várias questões.
Por que o investimento vale a pena?
Porque em até quatro anos ele vai recuperar esse valor e depois disso ele terá uma economia enorme na conta de luz. Além disso, muitas vezes a parcela do financiamento fica no valor da conta de luz, sendo que a conta é ajustada anualmente e com a mudança das bandeiras tarifárias, enquanto o financiamento é uma despesa fixa.
Como está o cenário atualmente?
O mercado está ampliando, os bancos estão oferecendo linhas de crédito especiais para os consumidores, mas falta mão de obra qualificada para instalação. Temos um projeto social em parceria com a prefeitura que faz essa capacitação de instaladores.
Como funciona o passo a passo para contratar o serviço?
Primeiro, o consumidor precisa procurar uma empresa especializada. A empresa fará uma análise do consumo da família, vai verificar o local para instalação dos equipamentos e elaborar o projeto. O cliente aprovando, os equipamentos são entregues e a instalação é realizada. Dura, em média, um mês todo o processo, dependendo do fornecedor.
Quanto tempo para ter retorno?
Em até dois meses o cliente vai perceber a redução na conta de energia.
Quem mora em prédio e não tem casa ou terreno, como faz?
O condomínio pode instalar na cobertura e dividir o valor do financiamento e dos créditos entre os moradores, ou o cliente pode conversar com o condomínio e fazer a instalação em uma área comum.
A Bahia tem alguma vantagem em relação aos outros estados?
O Nordeste fica mais próximo à Linha do Equador e isso favorece a luminosidade, que é o gerador de energia. É importante dizer que o gera a energia é a luz, a irradiação, e não o calor. Então, a Bahia acaba tendo mais vantagens em relação ao Sudeste, por exemplo.
Fonte: Rede Bahia
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