À medida que a maturidade começa a bater à porta, um dos principais motivos para dores de cabeça atende pelo nome de boleto a pagar. Afinal, quanto mais responsabilidade, mais contas. Os números têm mostrado que adolescentes e pessoas recém chegadas à fase adulta já lidam com dificuldades financeiras. Segundo levantamento da Serasa, 12,4% dos jovens até 25 anos não estão conseguindo pagar as contas em dia. Na Bahia, o resultado equivale a 12,9% do total desta faixa etária.
Ainda de acordo com a pesquisa, o principal motivo que leva à desorganização das finanças e o acúmulo de dívidas é o não controle no uso do cartão de crédito. A sensação do poder de compra aliada à possibilidade de pagamento futuro é o que leva muita gente a cair em furada, dizem os analistas.
Como no caso de Matheus Guimarães, 22, para quem o cartão de crédito é sinônimo de “aperto” no final do mês. O jovem costuma fazer compras na internet para revender, mas, constantemente, perde a mão e se atrapalha diante da quantidade de aquisições e parcelas.
“Eu nunca deixei de pagar as faturas, mas eu gasto muito mais do que deveria e fico apertado”, explica. Ele conta que já chegou a pagar R$ 2 mil reais no cartão de crédito e ficar com a conta zerada para o resto do mês.
Foi também devido a uma infinidade de prestações a pagar que Amanda Brito, 21, acabou com o nome negativado no Serasa. O vilão, neste caso, não foi o cartão do banco, mas sim o de uma loja de departamento.
A jovem fez uma compra expressiva e optou por dividir em muitas parcelas, para não pesar no bolso. O resultado, no entanto, foi um emaranhado de contas que acabaram sendo esquecidas em alguns meses, e negligenciadas em outros.
“Essa coisa de dividir em muitas vezes não dá certo para mim. Agora é negociar a dívida para tirar o meu nome do Serasa”, diz.
Planejamento
“Há pessoas, hoje em dia, com renda de R$ 2 mil que chegam a ter R$ 5 mil de limite de crédito, somando-se todos os instrumentos de créditos que possuem. Até mesmo pessoas inadimplentes conseguem acessar alguma modalidade de crédito”, pontua.
A falta de emprego e casos de demissão também figuram entre os principais causadores do acúmulo de dívida entre jovens. De acordo com a pesquisa do Serasa Perfil e Comportamento do Endividamento Brasileiro 2022, 33% das pessoas de até 30 anos apontaram o desemprego como o principal causador da inadimplência.
Para evitar o saldo negativo na conta e o aperto no final do mês, praticar o planejamento financeiro é a decisão mais acertada a se tomar. Ao contrário do que muita gente acredita, no entanto, organizar-se financeiramente não é sinônimo de não gastar ou recusar toda e qualquer modalidade de crédito. Segundo Carvalho, a “consciência de renda” é o conceito chave do planejamento financeiro.
“É necessário balizar o consumo de acordo com a renda, e não o contrário. O famoso não gastar mais do que ganha”, conta.
O consultor financeiro aconselha ainda o uso de algum instrumento para controle de finanças, a fim de evitar confusões e gastos inapropriados. Além disso, ele destaca a importância de sempre se avaliar cada decisão de consumo.
“Existem três perguntas básicas: eu preciso disso? Eu tenho capacidade financeira para isso? E, neste caso, é preciso ter cuidado com o crédito, que te dá a falsa sensação de poder de compra. Por fim, é importante se pegar tem que ser agora? E, assim, estabelecer uma hierarquia de consumo”, aconselha.
Acordo com credores
Uma vez que o planejamento financeiro não existiu e as dívidas chegaram, é necessário preparar-se para as negociações. O primeiro passo, de acordo com o advogado especialista em fraudes digitais Afonso Morais, é não fugir dos credores e tentar negociar as dívidas em sua totalidade. Segundo ele, é importante reunir todos os débitos e analisar se há condições de realizar os pagamentos.
Além disso, priorizar as dívidas levando em conta fatores como taxas de juros, valor total e as consequências do não pagamento podem ser uma jogada inteligente. “Por exemplo, o cartão de crédito tem juros mais altos do que uma conta de luz. Então, tem que procurar uma orientação para estagnar esses juros”, diz.
Na ânsia de zerar as dívidas, é importante se atentar ao limite de comprometimento de renda, que deve ser de, no máximo, de 30%, para evitar cair em uma bola de neve e, ao invés de sanar, criar mais débitos, afirma. De acordo com Morais, 60% do rendimento mensal é o mínimo exigido “para garantia de sobrevivência”.
Fonte: A Tarde
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