Um enxame de jet skis ucranianos atravessa o oceano sob um céu escuro. Eles são visíveis apenas com a câmera de infravermelho de um drone. Os jet skis desaceleram ao se aproximar da costa para evitar a detecção e apressam-se para entrar em terra seca.
“A Crimeia será ucraniana”, diz um dos homens em um vídeo visto pela CNN. Ele acabava de desembarcar e segurava uma bandeira da Ucrânia.
O codinome do soldado é “Muzykant”, que significa “o músico”. Afinal, trata-se de um violinista que virou soldado das forças especiais da Ucrânia. Muzykant é o líder do pelotão do batalhão Bratstvo que, juntamente com a inteligência de defesa da Ucrânia e outras unidades, infiltrou-se na Crimeia no início deste mês.
“Eu estava dopado de adrenalina”, contou Muzykant à CNN, lembrando que toda a operação pareceu uma névoa em sua mente. “Só percebi que tinha estado na Crimeia depois de regressarmos à nossa base. Percebi que tínhamos completado uma tarefa colossal”, contou.
A operação anfíbia, no início de outubro, foi uma infiltração das forças especiais da Ucrânia no maior reduto da Rússia na Ucrânia ocupada. Ela faz parte de uma abordagem recente de Kiev de aumentar os seus ataques na península. A data e hora exatas do ataque, bem como o número total de homens envolvidos, não foram divulgadas.
Muzykant foi um dos dez soldados do batalhão Bratstvo envolvidos no ataque noturno à Crimeia, em cooperação com outras unidades ucranianas. Eles navegaram por mares acidentados em lanchas maiores, depois mudaram para jet skis quando estavam ao alcance da península. Em seguida, correram em direção à costa, destruíram equipamentos militares russos colocados à beira-mar e voltaram, tudo em questão de horas.
O objetivo não foi apenas sabotar alguns dos equipamentos militares que a Rússia mantém perto da costa, mas também transmitir uma mensagem aos cidadãos ucranianos da região.
“Fizemos isso para que pessoas na Ucrânia e na Crimeia ocupada não percam o espírito e mantenham a fé de a Crimeia voltar à Ucrânia”, disse Muzykant. As forças russas anexaram ilegalmente a Crimeia em 2014. A península tem uma profunda importância simbólica para o presidente russo, Vladimir Putin, e é um centro logístico vital e estratégico para o esforço de guerra do Kremlin.
Muzykant disse que a perigosa operação consumiu meses de planejamento para preparar os soldados ucranianos para os muitos riscos que enfrentariam.
“No desembarque, o mar estava muito agitado, com ondas de até dois metros”, contou. “Além disso, os navios de guerra russos, os Raptors, faziam patrulha ali. Havia quatro deles, cada um com uma tripulação de 20 soldados russos armados com metralhadoras pesadas e uma arma de 30 milímetros”, contou.
Mesmo assim, o batalhão Bratstvo conseguiu navegar entre as ameaças, chegou à península e executou sua tarefa.
“Treinamos muito para esta missão. Todos sabiam o seu papel, o que era preciso fazer na costa”, explicou. “No caminho de volta depois da tarefa, os navios de guerra russos nos perseguiram, mas conseguimos escapar”.
Nenhum dos soldados do batalhão Bratstvo foi ferido ou capturado, mas a inteligência de defesa ucraniana reconheceu que as forças tiveram perdas na operação, sem detalhes revelados. Segundo a fonte, as baixas do lado russo foram muito mais significativas.
O governo da Rússia afirma ter capturado um dos soldados ucranianos que desembarcou na Crimeia e divulgou vídeos de seu interrogatório na televisão nacional, mas recusou-se a confirmar quaisquer perdas do lado russo.
A captura, a lesão ou a morte são os riscos para os quais Muzykant está preparado ao executar missões que ele acredita serem necessárias.
“Não é apenas apoio moral ao nosso povo na Crimeia, mas também ajuda às nossas forças nas trincheiras. Desviamos a atenção do inimigo para nós, e o inimigo é forçado a mudar o seu pessoal e veículos para a costa da Crimeia”.
A frente da Crimeia
A ação de outubro foi uma das muitas que as forças ucranianas realizaram na península nos últimos meses.
Em setembro, ataques atingiram a sede da Frota do Mar Negro da Rússia na cidade de Sevastopol, na Crimeia. Aparentemente, os mísseis usados foram os Storm doados pelo Reino Unido.
A Ucrânia também atingiu várias vezes a ponte Kerch, que liga a Crimeia à Rússia continental.
As forças de Kiev danificaram um navio russo e um submarino ao atingir uma das docas secas usadas pela frota do Mar Negro em 13 de setembro. A Ucrânia também atacou repetidas vezes a base aérea Saki, de onde decola parte das aeronaves de ataque russas.
A Rússia prometeu retaliação em várias ocasiões, chamando os ataques de “atos de terrorismo”, mas a Ucrânia seguiu com as ações na península. Além dos drones e mísseis, há também a possível ação das forças especiais de Kiev operando na Crimeia. O ataque anfíbio de outubro colocou os militares ucranianos num patamar acima.
Fonte: CNN
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