Se falando em um fornecedor de café como o Brasil, todos os dias negócios são fechados. Mas, de acordo com analistas ouvidos pelo Notícias Agrícolas, as negociações nesses primeiros três meses de 2023 foram mais lentas, apesar do período de entressafra que naturalmente já resulta em dias mais tranquilos no operacional.
As incertezas que ainda sondam o mercado, como a preocupação com a oferta brasileira, a safra de 2023 e a demanda em importantes polos consumidores são fatores que há meses “travam as negociações”. Resultado de todas essas condições, o produtor de café também continua observando a queda nos estoques internacionais.
Recentemente a European Coffee Federation, que tem grande abrangência no mercado divulgou os números referente ao mês de fevereiro e os dados indicaram queda de 367.350 mil em relação ao mês de janeiro e na última atualização estavam em pouco mais de 11 milhões de sacas. Esses são os números mais recentes já que a ECF divulga os dados, normalmente, a cada dois meses.
Segundo Haroldo Bonfá, analista da Pharos Consultoria, a queda chama atenção principalmente quando se separa os números por tipos de café. O levantamento da Pharos mostrou que os “lavados” provenientes da Colômbia e da América Central tiveram queda mais significativa no período.
“Nós acreditamos que isso tenha relação com os preços, com a mudança que tivemos no começo do ano, quando o mercado ainda estava em alta. Isso é o reflexo do mercado utilizando esse estoque para não pagar mais caro pelo produto”, comenta.
Os olhos do mercado também continuam observando a baixa nos estoques certificados da ICE, que em nova baixa encerraram o pregão da terça-feira (4) em 691 mil sacas. Para o analista, não há tendência de reversão no quadro no médio prazo, já que os negócios tendem a ficar travados até pelo menos a entrada da safra brasileira.
“O mercado fica travado porque o comprador espera o preço bater 169 cents/lbp, enquanto o vendedor fica esperando os 184 cents/lbp mais uma vez. Estão comprando e vendendo o que precisam, sem grandes novidades”, afirma.
Os estoques citados, segundo o analista, são considerados de “emergência” pelo mercado, mas há três anos vêm ganhando peso ainda mais importante na composição dos preços. “Se tem essa ruptura no volume exportado no mês de março, vamos ter que esperar para ver como será o mês de abril e o mercado ver se tem café suficiente. Neste caminho, tem que usar os estoques, cafés disponíveis em outros lugares, sem ser nas origens, porque nas origens existem outros gargalos”, complementa.
O mercado também deve continuar observando no médio prazo os fatores macroeconômicos que devem ditar o ritmo dos preços, além de manter o foco em uma possível antecipação da colheita no Brasil. “Só precisamos saber se a safra realmente vai antecipar no arábica e como os números de produção se confirmam”, complementa.
Honduras volta a ser o principal fornecedor da ICE
Com as crises climáticas atingindo as principais origens produtoras de café do mundo, apesar das dificuldades na produção o Brasil alcançou certo protagonismo no fornecimento de cafés para a ICE.
Durante muitos meses o país foi o principal fornecedor, posição que agora volta a ser de Honduras, tradicional fornecedor deste tipo de café.
Segundo os dados levantados pela Pharos, até a última segunda-feira (3), Honduras correspondia por 50% dos cafés certificados, enquanto o Brasil era responsável por 46,21%. Neste mesmo período no ano passado, o Brasil tinha 50,08 de participação e Honduras 41,15%.
Neste período, o produtor brasileiro mostrou ao mercado internacional como as práticas de pós colheita têm resultado em bons cafés, inclusive para atender os padrões ICE.
Fonte: Notícias Agrícolas
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