O comércio varejista na Bahia está em crise. Em 2022, o comércio foi o único setor da economia baiana cujo PIB registrou queda de quase 1%. Neste ano, as vendas de móveis e eletrodomésticos na Bahia caíram 21% e as de automóveis despencaram 15%. E os setores de material de construção, combustíveis, hipermercados e outros também sofreram redução nas vendas, sempre em relação a 2021. Entre os grandes ramos, apenas as farmácias registraram crescimento.
A crise do setor não é uma exclusividade baiana, ela está crescendo Brasil afora e, em 2022, o setor ficou em segundo lugar em número de pedidos de recuperação judicial. No início de 2023, as lojas Americanas pediram recuperação judicial com um rombo contábil de R$ 40 bilhões, e as grandes redes de comércio varejista no Brasil começaram a registrar dificuldades financeiras, a exemplo das Lojas Marisa, Renner, Tok&Stok e muitas outras. A rede Le Biscuit S.A, empresa baiana com sede em Feira de Santana e uma das maiores varejistas do país, registrou em 2022 um prejuízo de R$106 milhões, resultado praticamente igual ao verificado no ano passado. Para fazer frente à crise, a companhia fechou nove lojas físicas, fez ajustes na estrutura organizacional, está racionalizando despesas, ampliando sua ação nos canais digitais e executando um plano de reestruturação da dívida.
A crise começou na pandemia, pois o varejo foi o setor mais sacrificado, passando longos períodos de inatividade que levaram a descapitalização das empresas. Depois, o setor se deparou com um cenário macroeconômico muito ruim, com o aumento da inflação, a alta da taxa básica de juros, a forte queda no consumo e a competição desigual no âmbito do comércio virtual.
A Selic escalou de 2% ao ano no início de 2021 para 13,75% ao ano desde agosto de 2022, o que significa que o custo do crédito está em patamares exorbitantes, inibindo o consumo e as vendas. Por outro lado, a perda de poder aquisitivo da população, frente uma inflação que ainda não foi debelada, segue crescente. Além disso, quando a taxa de juros estava em 2%, muitas empresas tomaram empréstimos buscando uma alavancagem financeira e, de repente, se viram frente a um endividamento crescente.
Para completar, o varejo brasileiro gera capital de giro em negociação com fornecedores e usando dinheiro de terceiros e quando os juros batem em 13,75% isso se torna perigoso. Como se não bastasse, a concorrência com o comércio eletrônico, principalmente lojas chinesas, como Shein, Shopee e outras, que não pagam impostos e não tem imobilizado, estabeleceram uma competição desleal e que vem ferindo de morte o varejo brasileiro.
O cenário para 2023 ainda não está claro, mas é preocupante. É urgente, a redução na taxa de juros e a aprovação da reforma tributária – mas não para aumentar impostos e sim para desonerar e otimizar o setor. O comércio varejista é uma das atividades que mais geram emprego e renda e é preciso buscar soluções para o setor.
Fonte: A tarde
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