Com a expectativa de aumentar as vendas este ano em relação à Páscoa passada, de pequenas fábricas artesanais de chocolates aos grandes empreendimentos, a produção e as entregas foram aceleradas nos últimos meses para atender as demandas.
Na Bahia o destaque deste movimento é o sul do estado, principal produtor e onde estão mais de 80 marcas de chocolate. Na região, berço da cacauicultura baiana, além de encontrar os derivados, os visitantes tem a oportunidade de conhecer fazendas centenárias caminhando pela lavoura e acompanhando o processo de beneficiamento das amêndoas.
A estimativa de entidades com base na agricultura familiar desta região é aumentar em 20% sobre 2022 as vendas de ovos e chocolates artesanais, com grande concentração de cacau e variações com castanhas e frutas regionais. Produzidos com as melhores amêndoas orgânicas, boa parte tem o selo de Indicação Geográfica (IG) Sul da Bahia, atestando sua origem.
Nas grandes indústrias, dados da Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Amendoim e Balas (Abicab) apontam que no ano passado o setor vendeu mais de 10 mil toneladas no país, com aumento de 13% sobre o mesmo período de 2021 e a expectativa de crescer mais em 2023.
A festa, que se consolidou na modernidade como um evento cristão comemorando a ressurreição de Jesus, tem atualmente a característica de estimular o consumo de chocolates e outras guloseimas nesta época, mesmo em famílias que não praticam os princípios religiosos.
Rota turística
No período também o segmento do turismo sente o reflexo da data, com aumento de viagens de curta distância, aproveitando o feriadão. Neste contexto a rota turística Estrada do Chocolate (na BA 262 até a BR 101), entre Ilhéus e Uruçuca, oferece diversas opções aos visitantes.
Da lavoura à comercialização dos derivados, passando pela preparação das amêndoas e elaboração dos melhores produtos, a Estrada do Chocolate tem 45 km em meio à Mata Atlântica, em um roteiro histórico, rural e gastronômico, que faz parte da Zona Turística Costa do Cacau.
Trabalhada desde 2010, “a rota associa a produção do cacau e do chocolate com a atividade turística”, afirmou o secretário estadual de Turismo, Maurício Bacelar, acrescentando que este tipo de roteiro tem uma procura crescente também em outras regiões.
Ele citou que o vinho é outro produto que tem consumo tradicional nesta época do ano, e tem rotas em duas regiões do estado. No Norte o roteiro da uva e do vinho pode ser feita em Juazeiro/Petrolina e na Chapada Diamantina, em Mucugê e Morro do Chapéu.
Sobre a rota do chocolate o secretário salientou que “a maior parte da produção baiana de cacau está na região sul da Bahia, que concentra fazendas com construções centenárias”, pontuou, acrescentando que o projeto foi requalificado em 2022.
Para incrementar o atendimento aos visitantes, desde o ano passado a Setur em parceria com o Sebrae executa um projeto de capacitação da mão-de-obra para as equipes de colaboradores e proprietários que atuam nos diversos empreendimentos que estão localizados nesta rota.
Segundo Bacelar, outro aspecto importante para a consolidação do roteiro tem sido a divulgação dos destinos baianos em eventos do Brasil e exterior, garantindo também atração de visitantes de outros estados e países.
Como resultado, disse que é crescente a procura por parte dos passageiros dos navios de cruzeiro em conhecer, além das praias e outros atrativos da Zona Turística Costa do Cacau, também as fazendas e agroindústrias são diferenciais entre os demais pontos de desembarque dos turistas.
Turistas visitam fazendas de cacau no feriadão
A estimativa é de aumento de visitantes em Ilhéus no feriadão da Páscoa entre 38% a 42% para conhecer as fazendas de cacauicultura, as fábricas de chocolate e outros produtos feitos a partir da fruta, como a ‘cauchaça’, uma aguardente do mel de cacau, de acordo com o guia de Turismo, Aloísio Freitas.
Na Estrada do Chocolate são sete as fazendas com opções diversas de trilhas, que variam de acordo com a disposição do visitante caminhar e se embrenhar por entre os cacaueiros cultivados no sistema Cabruca, sob as árvores da Mata Atlântica.
Ele disse que as opções são amplas e a distância entre a cidade e a propriedade é uma das variáveis, bem como o interesse do turista em acompanhar parte ou todo o processo que vai da árvore à barra de chocolate, conhecido como ‘tree to bar’.
Freitas pontuou que além das fazendas situadas na Estrada do Chocolate, tem outras em Ilhéus e região abertas para os visitantes, enfatizando que a procura por estes roteiros é crescente. Ele lembrou que para a semana santa a expectativa é de uma cidade movimentada, também por pessoas que moram nos municípios vizinhos e vão à Ilhéus procurar os chocolates para presentear.
Neste contexto a mais nova atração da Zona Turística Costa do Cacau é a marca de chocolates Dengo, aberta no início de março com restaurante e loja de derivados do cacau no centro da cidade, ofertando também experiência rural na Fazenda Condurú, na região de rio do Braço, zona rural do município.
A indústria tem sede em São Paulo e possui lojas próprias em grandes cidades do Brasil como Salvador, São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, Belo Horizonte e Brasília, além de Ilhéus e Trancoso, e uma concorrida plataforma para comercialização virtual.
Atualmente os produtos Dengo são fabricados com a utilização de amêndoas produzidas no sul da Bahia, por 150 parceiros que oferecem amêndoas especiais. A meta é chegar em 2030 trabalhando com 3 mil produtores que oferecem matéria prima diferenciada, com origem na Bahia e no Pará.
Patrimônio baiano
Um dos atrativos recomendados na Estrada do Chocolate é a Fazenda Capela Velha, antiga Fazenda Boa Sorte, a 28 km da cidade de Ilhéus. Com origem no século XIX, nos primórdios do cacau na Mata Atlântica da Bahia, a propriedade vivenciou as diversas fases da cultura no estado.
Com grande representatividade na economia regional nos tempos áureos, sofreu como as demais lavouras cacaueiras com o advento do fungo causador da doença conhecida como vassoura-de-bruxa na década de 1990, quando foi desativada e abandonada como grande parte das propriedades dedicadas no cultivo das amêndoas na época.
Em 2011 foi adquirida pelo casal Tais e Carlos Tomich, que chegou em Ilhéus vindo de Minas Gerais. Apostando na revitalização da propriedade, desde a lavoura até o casario, eles conseguiram seu registro no catálogo do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (Ipac), pela relevância histórica para o estado.
Técnico agrícola curioso e persistente, Carlos Tomich desenvolveu um método próprio de processar as amêndoas, matéria-prima de chocolates diferenciados. Em 2019 o casal iniciou com a fábrica ‘do Cacao’ produzindo variados tipos de chocolate, com diferentes porcentagens de cacau na composição.
A experiência vem sendo positiva, de acordo com o empreendedor, que considera Ilhéus um vetor do turismo importante no estado. A média de visitas na propriedade é de 180 pessoas por semana. Entretanto, em dias de navio de cruzeiro, gira entre 250 a 300 pessoas por dia.
A fazenda recebe os grupos de turistas entre segunda e sábado, com agendamento prévio, incluindo uma visita guiada para conhecer todas as etapas do cultivo das amêndoas e visita na fábrica de chocolate.
“Servimos uma degustação, onde a pessoa tem a oportunidade de experimentar todos os produtos feitos aqui na fazenda, como geleia, melaço, licor, chá, nibs, chocolates”, afirmou Taís Tomich, citando ainda a lojinha que tem os produtos fabricados no empreendimento
Fonte: A Tarde
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