Uma maçã com casca 100% vermelha. Assim é a purple gala, novo clone de macieira que está sendo avaliado em mercados especiais pela Embrapa em colaboração com a Jardim dos Clones, empresa parceira no desenvolvimento da cultivar. “Essa é uma importante fase prévia ao lançamento do novo clone, que permite avaliar a aceitação pelos consumidores”, pontua Paulo Ricardo Oliveira, pesquisador da área de melhoramento genético da Embrapa Uva e Vinho.
A BRS Gala JVZ64, cujo fruto será apresentado comercialmente como purple gala, é a primeira cultivar brasileira do grupo gala do tipo “full color” (com coloração plena, em tradução livre).
“Ela é uma mutação natural que tem todas as características positivas e a alta aceitação das maçãs gala, acrescida de uma cor de casca excepcional. Trata-se de um vermelho intenso, com recobrimento compacto da epiderme dos frutos, com a distribuição uniforme da coloração superficial e sem estrias, característica que é uma tendência mundial em termos de diferencial organoléptico [efeito sobre os órgãos dos sentidos] e de preferência pelos consumidores”, destaca o melhorista.
“A purple é o sonho dos consumidores brasileiros que ‘compram com os olhos’ e sempre buscam uma fruta toda vermelha”, comenta Valdir Andrade, gerente comercial da Castelo, empresa responsável pela comercialização durante a atual fase de validação. Esses lotes são resultado de 145 toneladas produzidas na safra 2021/2022 oriundas de pomares de validação agronômica localizados em Vacaria (RS), um dos principais polos produtores da fruta no Brasil.
Andrade destaca que a purple gala está obtendo sucesso no mercado. Desde o primeiro contato dos compradores interessados, por meio de imagens encaminhadas, até o recebimento e comercialização da fruta nos pontos de venda escolhidos, os distribuidores, comerciantes e consumidores têm elogiado a excelente qualidade da fruta.
Brasil entre os dez maiores produtores mundiais de maçãs
A produção mundial de maçãs conta com dezenas de cultivares, com diferentes cores, aromas e sabores. No Brasil, em função de características climáticas, a produção fica concentrada na região Sul e é dividida entre duas cultivares e seus diferentes clones: a neozelandesa Gala, com 60% e a japonesa fuji, com 35% da produção.
De importador de maçãs, o Brasil tornou-se fornecedor internacional. Segundo dados da Associação Brasileira dos Produtores de Maçã (ABPM), em 2020 o Brasil foi o 150 maior produtor, com 1,09% da produção mundial. Foram produzidas 938 mil toneladas. Além do mercado nacional, os principais destinos da maçã brasileira foram Rússia, Bangladesh e Índia.
Além das cultivares estrangeiras e do desenvolvimento de novos materiais por meio de programas de melhoramento genético, a busca por novas alternativas para o setor produtivo conta com a identificação e seleção de mutações naturais promissoras, que podem trazer alternativas interessantes aos produtores.
“Devido ao volume disponível para a ação, foram selecionados clientes “premium” em diferentes pontos de venda das Centrais de Abastecimento (Ceasa) no Nordeste, Minas Gerais e Rio Grande do Sul. Se tivéssemos uma quantidade maior da purple gala, teríamos ampliado o mercado. Registramos um valor por caixa superior em 10% quando comparado aos clones tradicionais, devido à apresentação da nova maçã”, avalia Andrade.
Atuante na área desde o fim da década de 1980, Andrade vê grande potencial na nova maçã, especialmente por ser a primeira cultivar gala totalmente vermelha, ou “full color”, que está dando certo em solo brasileiro. Para ele, frutos como a Purple Gala serão o futuro da pomicultura. “É uma maçã que chama a atenção. Todos querem comprar. Ela vende rápido e por um preço 10% superior em relação às cultivares disponíveis no mercado brasileiro hoje. Com certeza será uma ótima opção para abastecer o mercado interno e alavancar as exportações”, afirma.
Outro aspecto importante é que, na safra 2021/2022, a falta de chuvas e o excesso de calor estão influenciando diretamente na “deficiência de cor” das maçãs, fato que não teria acontecido com a purple gala. “Ao longo das quatro safras que estou produzindo e acompanhando a cultivar, ela segue se mostrando estável”, afirma Fernando Soldatelli, produtor responsável pela condução da área de avaliação agronômica e validação do novo clone, que forneceu a fruta para a avaliação no mercado.
A purple gala também chama a atenção pela qualidade e homogeneidade no tamanho da fruta, o que lhe rendeu a classificação de CAT 1, a categoria mais valorizada. É o que relata Diego Zamban, da empresa Agroban, responsável pela classificação e embalagem das frutas em validação. “Cerca de 90% da Purple Gala foi classificada como CAT 1, enquanto que o mais comum das galas brasileiras é de 55%. É uma fruta que tanto pelo tamanho como coloração irá garantir o escoamento da produção e lucro para o produtor”, prevê.
Completada a fase de validação comercial e assim que a Jardim dos Clones e a Embrapa estabelecerem o modelo de negócios a ser adotado para a comercialização das mudas, será feito o lançamento oficial da nova cultivar. A previsão é que na safra 2023/2024 a Purple Gala esteja disponível nos principais mercados consumidores brasileiros.
A história da maçã purple gala
A nova cultivar foi inicialmente identificada e selecionada em 2013, pelo engenheiro agrônomo João Zuanazzi, a partir de uma mutação observada em um pomar da cultivar royal gala, no município de Vacaria (RS). Em 2018, a Embrapa foi convidada por um grupo de produtores, atualmente reunidos na empresa Jardim dos Clones Produção e Comercialização de Frutas e Mudas, a participar da avaliação desse novo clone da cultivar gala, que apresentava como principal característica produzir frutos de coloração 100% vermelha e, portanto, de elevado potencial agronômico e comercial. A partir de então, foi estabelecida uma parceria de cooperação técnica para o co-desenvolvimento da cultivar.
A Embrapa Uva e Vinho mobilizou pesquisadores que ficaram responsáveis por realizar avaliações agronômicas, da qualidade e do armazenamento dos frutos, bem como pelo atendimento aos requisitos legais de proteção e registro da cultivar junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Além disso, a equipe da Embrapa atuou atestando a identidade genética e a sanidade do material propagativo e assegurando a correta multiplicação do material vegetal básico.
O novo clone, registrado e protegido no Mapa como a cultivar BRS Gala JVZ64, é distinguível pela intensa pigmentação observada em diferentes órgãos, desde o desenvolvimento inicial das plantas é um verdadeiro produto brasileiro.
Fonte: Canal Rural
Comente esta matéria