Em um trailher qualquer, no coração e nas periferias da cidade, surge ele: roupas simples, sorriso calibrado e um fotógrafo estrategicamente posicionado atrás do balcão ou ao fundo da paisagem. O político do povo chegou. Mas nada como dizer “sou como vocês” do que aquele combo infalível: pastel de vento e suco de laranja morno em copo de plástico.
A encenação começa.
— “Esse é o melhor pastel da cidade!”, diz ele, dando uma mordida estudada, enquanto tenta não engasgar com o recheio de farinha e promessas.
A plateia, formada por assessores e bajuladores de plantão, dois curiosos desavisados e uma senhora que só queria pagar o seu lanche, observa em silêncio reverente. O clique da câmera e o vídeo do celular registra o momento: o político em seu habitat “natural”, como se aquilo fosse parte da rotina — entre uma licitação suspeita e outra.
Mal sabe o povo que aquele pastel custou mais caro que uma cesta básica: teve produção, figurino, marketing digital e impulsionamento no Instagram. O suco? Produzido à base de concentrado e encenação, com gosto forte de campanha antecipada.
Nas redes sociais, a legenda é clássica: “A vida simples ensina mais que qualquer cargo. Com o povo, pelo povo, para o povo.” Curtidas, comentários e emojis de aplauso se multiplicam. Os algoritmos agradecem.
Enquanto isso, já em posse do poder, o mesmo cidadão modelo assina contratos que fazem pastel de R$ 3 virar merenda escolar superfaturada a R$ 30. Tudo em nome da governança e do desenvolvimento local, claro.
Porque no fim do dia, o pastel pode até ser de vento — mas o esquema é sempre bem recheado.
Por: Alirio Junior/JNHOJE
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