Era uma vez um reino que, de tanto rir do bobo da corte, acabou entregando-lhe a coroa.
O bobo — um sujeito de fala solta, de cara feia, ginga cômica e zero comprometimento com o bom senso — começou apenas entretendo o povo com suas danças esdrúxulas e frases de efeito lançadas ao vento como se fossem decretos sagrados. No início, todos riam. Era confortável rir dele.
Mas eis que, entre uma piada e outra, o bobo começou a sussurrar planos, supostas histórias e falsetas. De idas e vindas ao castelo, começou a prometer ouro sem minas, pão sem trigo e glória sem guerra. Dizia para o rei, conhecer a fórmula mágica para resolver tudo — embora nunca a mostrasse. Contudo, ele chamou a atenção dos mais experientes conselheiros que tentaram alertar à coroa através da reflexão o caminho certo a seguir, frisando veementemente que aquele cômico apenas se tratava de um oportunista na história que viveu, pegando carona nas ideias alheias.
Mas o rei, despercebido e já envolvido pelos murmúrios, encantou-se com a pretensiosa popularidade do bobo. “Talvez seja ele o novo arauto do povo”, disse, enquanto bocejava em seu trono. E assim, pouco a pouco, o bobo deixou o tablado e subiu os degraus do poder, não porque era capaz de liderar, mas porque fazia muito barulho ao cair — e em tempos de silêncio político, cair com graça é confundido com saber voar. Afinal, nada como um bobo não tão bobo, que soube fazer do rei um passageiro no seu trono, enviesando entre os demais acordados uma utopia de que o trono não seria possível sem os serviços de gracejos do pretensioso.
Assim, quando o bobo conseguiu manipular o rei ao subir alguns degraus, a primeira medida com seus acordos, foi banir os conselheiros. “Muito sérios!”, disse ele. “Gente que pensa estraga o riso da plateia!” Líderes natos foram chamados de “pretensiosos”; personalidades influentes, de “inimigos do povo”; e os aldeões de boa fé passaram a ser zombados por acreditarem que honestidade e política ainda podiam habitar o mesmo castelo.
Com o passar do tempo, o reino virou um grande teatro, onde cada decisão era baseada no aplauso do momento, e não na razão. O Conselho dos Espelhos — aquele que ajudava o rei a ver os próprios erros — foi quebrado em praça pública. “Reflexão atrapalha a narrativa”, dizia o bobo entre gargalhadas.
O reino se tornou um lugar onde o eco das falas do bobo substituiu a voz da experiência, e onde o povo, entre risos e choros, já não sabia se era espectador ou refém da peça em cartaz.
Moral da história? Quando o governo se descuida e escuta demais o bobo da corte, arrisca transformar o castelo em circo — mas sem lona, sem rede de proteção, e com “leões famintos à solta”. E o pior: com os verdadeiros líderes sendo expulsos como se fossem os palhaços do enredo.
Por: Alirio Junior/JNHOJE
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