Era uma vez uma sociedade que se dizia livre, democrática e justa. Mas como todo conto de fadas moderno, a realidade era outra. Para que a ordem fosse mantida e a paz dos mais afortunados não fosse perturbada, os muros começaram a se erguer. E não apenas muros de tijolo e concreto, mas muros invisíveis que separavam os que mandam dos que obedecem, os que enriquecem dos que aplaudem e os que governam dos que apenas sobrevivem.
Os muros financeiros garantem que a riqueza continue fluindo para os mesmos bolsos, enquanto a multidão observa do lado de fora, feliz por ganhar migalhas e ainda grata por não ser chamada de “inimiga do progresso”. Os muros educacionais continuam firmes, garantindo que a sabedoria permaneça um luxo para poucos, enquanto os demais se contentam com discursos decorados e frases feitas retiradas de redes sociais.
E há os muros políticos, sustentados por um exército de bajuladores que, sem causa e sem conhecimento, fazem fila para defender seus senhores. Eles marcham, repetem slogans e protegem os poderosos com uma devoção cega, acreditando que, um dia, poderão entrar nos salões do privilégio. Pobres almas, não percebem que os convites para essa festa já foram distribuídos há séculos e que, para eles, só resta a função de bater palmas e pedir mais um muro.
Enquanto isso, os verdadeiros donos do jogo seguem impassíveis, erguendo mais barreiras, apertando mais cercas, criando mais divisões. Eles sabem que, enquanto houver quem os aplauda de graça, não precisarão se preocupar com revoltas. Afinal, um muro bem construído não apenas protege quem está dentro, mas também dá a ilusão de segurança para quem está do lado de fora.
“E assim, entre promessas vazias e ilusões bem embaladas, os muros seguem crescendo, os poderosos seguem reinando, e os bajuladores seguem acreditando que, um dia, serão convidados para a mesa, sem perceber que já estão servidos como prato principal.”
Por: Alirio Junior/JNHOJE
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