Numa terra não muito distante, onde os ventos da moralidade são filtrados pelos interesses familiares, a fiscalização dos poderosos é feita com um aperto de mão, um tapinha nas costas e, claro, um cargo de confiança para o cunhado. A república da parentada funciona como um grande almoço de domingo: todos se conhecem, dividem o mesmo pernil e, no final, a conta é paga pelo contribuinte.
A engrenagem dessa indústria de inoperância é bem simples: quando um fiscal descobre uma irregularidade, antes de fazer qualquer anotação, ele precisa verificar quem está envolvido. Se for um desconhecido, multa e autuação rápida. Se for um primo de terceiro grau da esposa do chefe, é hora de arquivar o processo numa gaveta com três cadeados.
E não podemos esquecer do lendário “compadrio institucionalizado”, onde a troca de favores é mais eficiente que qualquer política pública. Aí entra a famosa dança das cadeiras, onde quem fiscaliza hoje será fiscalizado amanhã e, portanto, precisa garantir que a roda gire sem solavancos. Afinal, a ética é um conceito bonito para discursos, mas inconveniente para quem tem um sobrinho precisando de um emprego.
Enquanto isso, o cidadão comum assiste a esse teatro tragicômico de nepotismo e impunidade, torcendo para que, um dia, a moralidade vença o parentesco. Até lá, seguimos com os fiscais invisíveis, as multas evaporadas e a certeza de que, na República da Parentada, a única fiscalização que funciona é a do churrasco de domingo.
Por Alirio Júnior/JNHOJE
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