Em meio ao enfrentamento da Covid-19, a baixa aderência às doses de reforço tem preocupado especialistas e órgãos de saúde em todo o Brasil. Conforme dados do Ministério da Saúde, quase todos os estados têm um índice de menos de 30% da população vacinada com a segunda dose. Mesmo com o alcance de pouco mais de 80% na primeira aplicação do imunizante, a Bahia teve apenas 24,10% de imunizados com a segunda dose de reforço. A realidade é semelhante em diversos estados brasileiros, como Rio de Janeiro (24,55%) e Minas Gerais (20,91%).
Tendo em vista o atual cenário e a necessidade de estimular a mudança das taxas de cobertura vacinal no país, as farmacêuticas Moderna e Adium lançaram a campanha “Vacina Brasil” na última quinta-feira, 24, em São Paulo. A divulgação da iniciativa, que contou com apresentação de painéis com especialistas, aconteceu em um evento voltado para jornalistas e influenciadores digitais.
Para a diretora médica de vacinas Latam da Adium, Glaucia Vespa, a ação visa conscientizar a população acerca da importância da vacina periódica e atualizada da covid-19. Após acordo firmado no final de 2022, a Moderna chegou este ano ao Brasil com a Adium como sua distribuidora exclusiva da vacina com RNA Mensageiro (mRNA).
“Através da vacinação nós somos capazes de eliminar, erradicar um vírus. […] As vacinas não marcaram simplesmente a minha vida pessoal, elas são o tom da minha vida profissional, pois há três décadas eu trabalho com vacinas e é um grande privilégio”, afirmou.
A especialista ainda enfatizou a responsabilidade da população para o aumento da aderência às doses de reforço contra a doença. A partir disso, ela alertou para os riscos de gravidade dos casos e detalhou que a tecnologia presente nas vacinas com mRNA mensageiro são seguras e eficazes na proteção do indivíduo.
“A vacina de mRNA mensageiro é extremamente eficaz e se você tiver acesso à informação, vai ter a mesma segurança que eu tive em vacinar. Durante muitos anos, eu usei a expressão de que as vacinas salvam vidas, as vacinas são a diferença para alguém que ia ficar doente e não vai mais, alguém que ia morrer e não vai mais. Mas eu estava errada, recentemente, eu descobri que as vacinas não salvam vidas. A vacinação salva vidas porque a vacina é um produto inócuo se não for utilizado”, pontuou.
No último dia 18, o imunizante das farmacêuticas Adium e Moderna, que contém em sua composição a cepa ômicron XBB.1.5, foi submetido ao pedido de aprovação para a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). A indicação inclui pessoas a partir dos seis meses de vida saudáveis, imunossuprimidos e de outros grupos de risco, entre eles gestantes, obesos, profissionais, pacientes com problemas cardíacos e renais.
Vigilância
Embora não seja mais considerada uma emergência sanitária, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), os esforços voltados ao combate do coronavírus devem ser mantidos, principalmente, na atualização da caderneta de vacinação. Neste contexto, o infectologista e diretor do Departamento de Pediatria da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, Marco Aurélio Safadi, apontou os impactos e riscos direcionados ao público infantil e idosos, que podem estar mais vulneráveis à exposição ao coronavírus. Ele reiterou a mudança de paradigma na saúde pública brasileira provocada após a inserção das vacinas, a exemplo da erradicação da rubéola e poliomielite.
“Eles são um público de risco para hospitalização e complicações da covid-19. A gente tem claramente os indivíduos de maior idade, com 50, 60 anos, que vivem com comorbidades. Então, é importante que a gente olhe esse grupo com mais carinho, mais cautela. É um grupo que tem na covid-19 um fator de risco para hospitalização”, disse.
O médico infectologista ainda comentou a possibilidade de retorno do uso das máscaras diante da circulação de novas variantes do vírus no país. De acordo com ele, as medidas de proteção não se devem apenas ao surgimento das cepas, mas com uma situação epidemiológica que pressupunha a necessidade de cuidado.
“Ao ter uma nova variante, isso não significa que teremos a volta de uma situação de descontrole. Pois existem diversos aspectos ligados à questão das variantes que podem ou não determinar maior transmissibilidade, gravidades. Então, há de fato novas variantes, mas ainda não sabemos com clareza qual será o real impacto no cenário epidemiológico. É necessário vigilância, atenção, e são essas as ferramentas que a gente vai utilizar na hora de decidir ou não pelo retorno dessas medidas”, ponderou.
“Eu acho que o mais importante hoje para a população que já se imunizou não é quantas doses de vacina tomou no passado. O mais importante hoje é: ‘há quanto tempo você tomou a última dose?’. Então, essa é a principal mensagem, eu acho que nós temos evidências muito claras no sentido de que ter uma dose de vacina recente é o mais importante para estar protegido e, em particular, com uma vacina que esteja atualizada ao vírus ou a versão do vírus que está circulando no momento”, acrescentou.
Covid longa
Os desafios em torno do tratamento da covid longa, que consiste nos sintomas prolongados após a contaminação pelo coronavírus, também foram abordados pelo médico do Instituto de Infectologia Emílio Ribas e do Hospital Israelita Albert Einstein, Sergio Cinerman, durante o lançamento da campanha “Vacina Brasil”. Para o especialista, que também atua como coordenador científico da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), a condição ocupou o primeiro lugar dos 11 problemas globais de saúde a serem observados em 2023, conforme o Instituto para métricas e avaliação de saúde americano (IHME).
Segundo Cinerman, os sintomas podem persistir desde a doença inicial ou se desenvolver após a recuperação do paciente, podendo ir e vir ou recair com o passar do tempo. As complicações relacionadas ao quadro podem atingir o pulmão, coração e sistema nervoso. Entre os sintomas estão: fadiga, problemas de memória, depressão, ansiedade, dor de cabeça. Ele ainda apontou que o quadro pode ser diferente entre adultos e crianças, mas apresentam algumas semelhanças.
“A vacinação é importante para entender os impactos da covid longa. E muitas vezes há dificuldade para esse diagnóstico e não é um erro do médico, nem do paciente. A vacina é um fator determinante para que a gente possa ter um menor risco de exposição a esse tipo de complicação da covid-19”, afirmou.
Fonte: A Tarde
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