O Rio de Janeiro viveu nesta segunda-feira (25/10) a maior onda de ataques a ônibus da história da cidade. Ao menos 35 ônibus e um trem foram incendiados por criminosos ligados à maior milícia do munícipio.
Entre os ônibus incendiados, 20 são do transporte municipal comum, 5 do sistema de transporte rápido BRT e o demais de fretamento.
Os ataques começaram após o miliciano Matheus da Silva Rezende, de 24 anos, ter sido morto pela Polícia Civil durante uma operação na comunidade Três Pontes. Conhecido como Faustão ou Teteu, Rezende era sobrinho de Luiz Antônio da Silva Braga, o Zinho, chefe da milícia que domina a Zona Oeste do Rio, o Bonde do Zinho.
De acordo com a polícia, Rezende seria o número dois na hierarquia do Bonde do Zinho e suspeito de ter cometido ao menos 20 assassinatos, entre eles o do ex-vereador Jerônimo Guimarães, um dos fundadores da milícia conhecida como Liga da Justiça, em agosto de 2022.
Os ataques
A série de ataques incendiários a ônibus começou de tarde e fechou vias nos bairros Campo Grande, Santa Cruz, Paciência, Guaratiba, Sepetiba, Cosmos, Recreio, Inhoaíba, Barra, Tanque e Campinho, na Zona Oeste. Mais de 1 milhão de pessoas vivem nas regiões atingidas.
Os ônibus foram interceptados por homens armados e depois incendiados. Imagens dos ataques mostram passageiros deixando os veículos às pressas.
Um trem que saía de Santa Cruz em direção à Central do Brasil foi incendiado por volta das 18h próximo à estação Tancredo Neves.
A Avenida Brasil, principal rodovia do Rio, chegou a ficar fechada, com um ônibus atravessado na via.
A ação causou um caos no sistema de transporte. Cerca de 200 bombeiros de 15 quartéis participaram no combate às chamas. O prejuízo é estimado em mais de R$ 37 milhões.
Às 18h40, a cidade entrou em estágio de atenção – o terceiro nível em uma escala de cinco e significa que ocorrências estão afetando o munícipio e a rotina da população. A situação se normalizou no fim da noite, com todas as vias atingidas liberadas.
Prisão de suspeitos
A Polícia Militar prendeu 12 suspeitos de envolvimento nos ataques e apreendeu diversas armas. O governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, afirmou que os detidos irão responder por terrorismo. “Eles estão presos por ações terroristas, e por isso estarão sendo diretamente encaminhados para presídios federais. Porque lá é o local de terrorista”, disse.
Castro ressaltou ainda quer colocou todos os contingentes das forças de segurança nas ruas e que espera prender Zinho nas próximas horas. Segundo o governador, a operação que resultou na morte de Faustão faz parte de uma estratégia voltada a prender os três principais criminosos do estado: Zinho, o miliciano Danilo Dias Lima, conhecido como Tandera, e Wilton Quintanilha, conhecido com Abelha, um dos chefes do Comando Vermelho, a maior facção do tráfico do Rio de Janeiro.
“No meio da operação, houve uma resistência e depois veio a óbito o Matheus Rezende, conhecido como Faustão ou Teteu. Ele era responsável pela guerra e também pela união com o tráfico, com as narcomilícias. Alguns dizem que ele era preparado para ser o sucessor do miliciano Zinho”, acrescentou.
Intervenção federal no Rio
Após os ataques, o ministro da Justiça, Flávio Dino, disse que o governo federal ampliará as equipes federais em atuação no estado para auxiliar na segurança pública. Ele anunciou que o secretário-executivo do Ministério da Justiça, Ricardo Cappelli, o secretário Nacional de Segurança Pública, Tadeu Alencar, e o comandante da Força Nacional, Coronel Alencar, estarão no Rio nesta terça-feira para avaliar a situação.
“Estamos mantendo e ampliando operações diárias no Rio, no que se refere à competência federal, com realização de prisões, investigações, patrulhamento e apreensões. Vamos aumentar mais ainda as equipes federais, em apoio ao estado e ao município”, escreveu em sua conta no X (antigo Twitter).
O ministro afirmou ainda que novas decisões serão divulgadas nos próximos dias.
Antes disso, o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, já havia solicitado aos governos federal e estadual uma resposta para evitar novos ataques e afirmou que o maior prejudicado com as ações milicianas é “o povo trabalhador”. Ao jornal Folha de S. Paulo, Paes disse que os ataques mostram um “descontrole total” na segurança e os definiu com um “tapa na cara do Estado”.
Fonte: DW
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