Com o início do ano letivo chegando, se aproxima também um momento que costuma ser de empolgação para a criançada, mas de preocupação para os pais e responsáveis: a compra do material escolar. A despesa é mais uma daquelas típicas das primeiras semanas do ano, mas ela traz o desafio de, ao mesmo tempo, seguir os pedidos da escola, agradar os pequenos e não comprometer significativamente o orçamento familiar. Neste ano, um levantamento realizado em sites de venda pelo Procon do estado do Rio de Janeiro (Procon-RJ) apontou variações superiores a 600% nos preços dos principais itens das listas. Por isso, os especialistas são unânimes: planejar e pesquisar é a melhor forma de economizar.
O levantamento do Procon-RJ levou em conta os preços de 157 itens escolares e comparou produtos da mesma marca em dez sites. Uma borracha branca, por exemplo, custava R$ 1,15 em um site, enquanto em outro saía a R$ 8,50. A pesquisa apontou ainda a agenda e o compasso de precisão como os vilões da lista, com as maiores médias de preços.
Na Bahia, o Procon realizou a Operação Volta às Aulas, vistoriando 31 instituições de ensino e 19 estabelecimentos comerciais. Três deles foram autuados por irregularidades como a ausência de Código de Defesa do Consumidor e preço visível. Entre as escolas, 15 ficaram de apresentar em até cinco dias informações sobre a lista de material escolar e o plano de execução didático-pedagógico 2024.
Material usado
Advogado especialista em direito do consumidor e ex-presidente da Associação dos Procons, Filipe Vieira chama a atenção para este documento, que, de acordo com ele, pode também ajudar as famílias na hora da compra. “A escola deve informar o que vai ser utilizado e em que momento será usado, em qual atividade. Essa informação vem no plano pedagógico ou de aplicação e será útil para que os pais ou responsáveis saibam o que é prioridade na compra e, se for o caso, escolha o que pode comprar depois ou no decorrer do ano”, explica o especialista.
Vieira destaca ainda que a escola não pode indicar ou exigir fabricantes específicos, e os itens não precisam ser necessariamente novos ou sem marcas de uso. É possível reaproveitar material de outros anos e escolher as opções que cabem no orçamento da família. Há também aqueles itens que as escolas estão proibidas de pedir. O advogado destaca produtos químicos ou de limpeza, material administrativo para o colégio ou de uso coletivo são barrados na lista. Tudo isso deve ser custeado pela mensalidade.
Já sobre as variações nos preços encontrados em lojas e sites, o advogado esclarece que não há uma tabela ou média de preços a ser seguido. “O que a gente tem é uma economia de livre-mercado, então os estabelecimentos podem praticar seus preços, não existe um valor tabelado. O que é importante saber é que quando os pais ou responsáveis acreditarem que está existindo abusividade, eles podem denunciar aos órgãos competentes que eles vão averiguar. E aí para economizar, é preciso ter duas palavras em mente: planejar e pesquisar”, afirma.
Para a comerciante Edna Luz, a despesa é dobrada todo ano. Ela tem duas filhas gêmeas, que já demonstram empolgação para as compras do material escolar. A mãe já tem uma estimativa de quanto vai gastar e prevê que será mais do que no ano passado: de R$ 1,6 mil em 2023, os custos devem passar para cerca de R$ 2 mil. Isso porque os livros e a taxa de matrícula ela já pagou em dezembro, para aproveitar um desconto de 50%.
“Todo ano tem esse gasto, junto com IPTU, IPVA, contas das festas de final de ano. A gente tenta se planejar para conseguir aproveitar esse desconto em dezembro, se aperta, faz um caixa, dá um jeito”, conta a comerciante
Início de ano
Professora de economia na Unijorge, Débora Guimarães não tem dúvida de que essa despesa de início de ano com material escolar pode levar ao endividamento da família e comprometer todo o orçamento do ano, principalmente porque “muitas vezes, os pais e responsáveis acabam recorrendo ao crédito com parcelamento”. Por isso, a orientação da especialista é se planejar.
“Recomenda-se aproveitar o décimo terceiro salário ou mesmo a remuneração das férias para realizar essas despesas de início de ano. O ideal seria reservar uma pequena quantia durante todo ano para utilizar nestas despesas e tentar negociar na hora da compra descontos com pagamento à vista. Se tiver dinheiro já separado para essas despesas, pagar à vista. Se precisar usar o cartão, evite parcelamentos muito longos”, aconselha.
Depois do planejamento, o primeiro passo deve ser, segundo a especialista, relacionar todos os materiais que precisa e fazer uma boa pesquisa de preços, tanto em estabelecimentos físicos como em virtuais. No caso das lojas online, o alerta da professora de economia vai para a necessidade de levar em conta o valor do frete, o prazo de entrega e os comentários de clientes em sites de reclamação.
“Pode-se também fazer essa proposta nos grupos de pais ou até criar um grupo específico para compras de material no atacado, venda de livros didáticos e paradidáticos usados e de fardamento também”, afirma a economista.
Na hora de ir às compras, a estratégia usada por Edna é fugir das marcas e personagens mais caros, e comprar alguns itens no atacado, deixando uma parte para o próximo ano ou até para usar em casa. Ela já vem pesquisando nas lojas e percebeu que os preços aumentaram: “um caderno de uma matéria no ano passado comprei de R$ 6,99, desta vez já está R$ 11,99”, relata.
“Quando é dessas marcas ou personagens mais famosos, o preço dobra ou triplica. Um caderno de desenho, por exemplo, você acha de R$ 12, mas, se é das princesas ou algum personagem famoso, chega a R$ 30 ou R$ 35. Hoje fica mais fácil economizar nisso, porque já temos muitas opções de fabricantes, já temos lápis com material reciclável, dá para economizar nisso”, afirma.
Segundo Edna, os itens mais caros costumam ser estojo, mochila e lancheira. Desde o final do ano passado, as filhas da comerciante já estão ansiosas para as compras do material escolar. E elas são, segundo a mãe, exigentes.
“Querem tudo novo. Se eu levar para as lojas, vão querer até o que não tem na lista, até o que não usam ainda. Por isso, prefiro não levar, mando fotos e elas escolhem em casa. Mas não faço todos os desejos”, conta.
A professora de economia vê com bons olhos a companhia dos pequenos na hora das compras. Para ela, esse pode ser um momento também para começar a orientar as crianças sobre o consumo. Mas um outro conselho da especialista para fazê-los participar deste momento é convidá-los para personalizar o próprio material escolar, aproveitando os itens que já tem em casa.
Fonte: A Tarde
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