Percebida no cotidiano das cidades, a participação crescente das pessoas idosas na população baiana foi confirmada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Entre 2010 e 2022, o percentual de homens e mulheres com 65 anos ou mais passou de 7,2% para 10,6%, aumento que desafia a sociedade a derrubar ideias pré-concebidas sobre o perfil desse público, e quais tipos de comportamentos e atividades esperar dele.
No primeiro semestre da sua terceira graduação, José Rosenvaldo Evangelista Rios, 80 anos, diz nem dar muito espaço para quem cogite questionar sua presença nas aulas do curso de direito, na Unijorge. “Qualquer ambiente que eu chegue e me falem oi, coroa, eu digo que coroa não identifica muito bem, que eu já fui velho, já fui idoso e agora sou ancião. Eu levo na esportiva”, conta.
Formado em ciências contábeis, pós-graduado, ex-professor de pós e proprietário de um escritório de contabilidade há 46 anos, José costuma lançar mão da sua experiência para dar conselhos aos colegas, e garante ser bem recebido nas suas colocações. Afinal, ele pertence a um grupo restrito: 2,44% da população baiana com 80 anos ou mais.
Até já aproveitou para repreender um estudante praticando etarismo contra uma aluna na faixa de 60 anos, julgando que uma faculdade não era lugar para ela. “Eu sou muito mais velho que ela. Você não vai me tratar assim, vai?”, diz.
Mesmo contando com oito funcionários, ele passa seus dias trabalhando e brinca que só vai se aposentar aos 105, quando irá começar a curtir a vida. Amante de cruzeiros, José conta já ter feito alguns por águas internacionais, mas ter preferência por viajar pelo Brasil, ressaltando que tem apenas três estados nunca visitados: Acre, Tocantins e Rondônia.
Com 72 anos completados no mês passado, Jaime Neves chama a atenção pela disposição e flexibilidade, mesmo entre quem não o conhece pessoalmente, pois basta olhar seu Instagram para perceber essas habilidades. Essa vitalidade fez com que se mantivesse trabalhando por alguns anos após a aposentadoria oficial, mas depois da pandemia achou melhor deixar os trabalhos de campo da geologia.
Praticante de pilates há 27 anos, há oito ele tem a própria namorada como instrutora. Jaime também faz musculação e joga capoeira regularmente, modalidade iniciada ainda na adolescência. “Estou voltando agora, parei por 20 anos”, fala, explicando que treina um pouco, mas que fica mais tempo na “parte musical”.
O que ele nunca parou, exceto na pandemia, foi com a dança de salão, presente em sua vida há mais de 40 anos, 37 deles sendo professor, o que lhe rendeu homenagens pelos serviços prestados. Embora a dança de salão frequentemente seja associada a pessoas mais velhas, foi através dela que Jaime teve maior intercâmbio com jovens, pois teve um projeto de inclusão social.
Jaime cogita ter vivido algum momento de preconceito por idade, mas de forma tão sutil que realmente não se fez notar. “É até difícil falar, mas eu não percebi. Ao longo da minha vida, dando aula de dança e também no grupo de capoeira, eu convivi muito com jovens, o projeto era com crianças e adolescentes, então a gente termina falando um pouco a língua deles”, conta.
- Fonte: A Tarde
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