O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), que aplica o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), informou nesse domingo (5) que a taxa de abstenção na Bahia foi de 28,5% até as 20h, quando 98,3% das informações no país sobre a presença no primeiro dia estavam apuradas. Nacionalmente, o índice foi um pouco menor: 28,1%. O estado teve 324.284 inscrições.
Os candidatos fizeram as provas das áreas de Ciências Humanas e suas Tecnologias (História, Geografia, Filosofia e Sociologia), Linguagens, Códigos e suas Tecnologias (Português, Literatura, Artes e Língua Estrangeira – Inglês ou Espanhol) e Redação.
Para Rodrigo Mota, professor de gramática e interpretação de texto, as questões de linguagens deste ano seguiram o esperado quanto ao formato do Enem. “Em muitas questões, havia mais de uma alternativa vista como ‘verdadeira’, mas somente uma delas correspondia ao enunciado. Foram questões que mantiveram o compromisso de selecionar os estudantes não apenas por seu conteúdo, mas pela sua compreensão da diversidade como algo positivo e pela atenção ao que estava sendo solicitado em cada questão”, afirma.
Apesar desta ser a primeira edição do exame com provas coloridas, para o coordenador pedagógico do Pré-Vestibular do Grupo Bernoulli Educação, Breno Pires, isso gerou certa decepção na prova de geografia. “A gente esperava uma possibilidade de maior aparecimento de questões com mapas, mas foram poucas com gráficos. Apesar de as questões estarem bastante equilibradas entre geografia física e geografia humana, faltou um pouco de questões de geopolítica, um tema que normalmente também aparece”, diz.
De acordo com Ricardo Carvalho, professor de história, esta edição marcou uma “volta a um grau de normalidade” para a prova de Ciências Humanas. “As provas de história, geografia, filosofia e sociologia tiveram um equilíbrio de distribuição de conteúdos, cobrando de forma econômica praticamente todos os temas ou as grandes áreas do conhecimento que estão postas dentro dos itens que normalmente aparecem dentro do conteúdo do ensino médio dessas provas. Eu acredito também que a prova voltou a cobrar conteúdo em equilíbrio com a análise crítica, interpretação de texto, ou seja, esse meio termo que é tão fundamental na avaliação de um jovem que está se elegendo para ingressar no ensino superior”, avalia.
Na redação, o tema foi “Desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil”. Luiza Menezes, professora de redação e fundadora do curso de tutoria educacional Aponte, explica que o trabalho de cuidado é todo aquele que é feito para cuidar de algo ou alguém sem que haja a devida remuneração ou sem que seja contabilizado como um trabalho regulamentado. Pode ser uma função de limpeza ou de cozinha, por exemplo, ou um trabalho voltado para o cuidado de crianças, idosos ou pessoas com deficiência.
Segundo ela, o tema levanta uma problemática que precisa ser discutida, mas não é um assunto tão fácil. “É uma temática que realmente é invisibilizada, como o próprio tema já traz na sua construção, mas tem muitos elementos temáticos. Isso pode fazer com que, à primeira vista, o participante fique um pouco confuso e até um pouco nervoso, mas os textos de apoio estão ajudando a direcionar esse pensamento, então dá para entender o que o tema quer dos estudantes. Foi um assunto muito bom, apesar de um pouco mais complexo do que em outros anos”, diz.
Segundo Breno, coordenador pedagógico do Bernoulli, o foco na história feminina pode ter auxiliado os candidatos no tema da proposta de redação, e a prova de história estava bastante integrada com sociologia. “Muitas questões pareciam ser de história, por exemplo, e os distratores pareciam ser mais sociologia, foi uma prova bastante interdisciplinar. No tema de filosofia e sociologia, uma prova extremamente atualizada com textos mais recentes, indicando uma renovação do nosso banco de itens. A prova de filosofia, focada em filosofia contemporânea, mas dentro ainda de filosofia e sociologia, a gente vê um predomínio de questões de sociologia”.
Para estudantes, tema da redação foi surpresa boa
A curiosidade e a incerteza sobre o tema da redação é um dos pontos centrais da prova. Ao abrir o exame e ver o tema, o estudante Cauã Alves Conceição, de 17 anos, sentiu alívio.
“Minhas expectativas eram democracia e capacitismo, porém achei [o tema da prova] importante também, pois temos muitos casos assim na sociedade brasileira. Eu me senti muito preparado, pois convivo com várias mulheres que realizam o trabalho de cuidado. De certa forma, trouxe à tona a realidade de muitas pessoas”, diz.
Nicole Barros, de 18 anos, diz ter se surpreendido ao ver o tema da redação devido à especificidade do assunto. Foi ao ler os textos motivadores e pensar nos argumentos e referências que usaria que a jovem se tranquilizou. Para fortalecer seu texto, ela citou na introdução o filme ‘Que horas ela volta?’, protagonizado por Regina Casé, que evidencia a rotina de uma diarista e seu convívio com os patrões e com a própria família.
“Apesar de ser um assunto pouco discutido ou invisibilizado, como o próprio tema propõe, eu gostei da proposta, por abranger um eixo temático recorrente atualmente, que é a desigualdade de gênero e a situação da mulher no mercado de trabalho. É algo que já carrega em si um repertório extenso até mesmo de vivências de pessoas que conhecemos, o que me ajudou a entender a proposta”, diz.
Para Vinícius Freitas, de 20 anos, falar sobre a sobrecarga da mulher numa prova com as dimensões do Enem é essencial. “Alguns outros temas do Enem também são muito importantes e muito relevantes, mas não estão inclusos na vida de todo mundo, são um pouco mais específicos. Esse tema está na vida de todo mundo, porque a maioria das mulheres vai perceber que, na sua criação, elas são ensinadas e influenciadas a fazer o trabalho doméstico. É muito importante, porque faz todos refletirem, gera uma repercussão muito grande. Vão ser milhares de jovens tendo que discorrer sobre isso”, diz.
Acostumado a falar sobre música nas redes sociais, Vinícius, que pretende seguir a área da comunicação, foi para o Enem com um repertório de canções preparado para a redação. “Diferente de outras pessoas, que assistem muitos filmes ou leem muitos livros para ter repertório, o meu é quase 90% de músicas. As músicas que eu escuto, principalmente no rap, têm muito conteúdo em relação a isso, mulheres que assumem todo o trabalho doméstico ou trabalhando fora e sendo mal remuneradas”, conta.
Em seu texto, ele usou um verso da rapper carioca Nina do Porte na canção ‘Mo Parada’, uma colaboração dela com o também rapper MD Chefe. Na música, a artista denuncia a falta de auxílio de seu parceiro nas tarefas domésticas.
Fonte: REDEBAHIA
Comente esta matéria