Dor no peito, tosse carregada e catarro espesso, sintomas comuns à gripe, também podem evoluir rapidamente para um quadro mais grave, como a pneumonia, doença que se tornou, em 2022, a mais letal para crianças na Bahia. Dados coletados junto à Secretaria Estadual da Saúde (Sesab) mostram que houve um aumento de 341% nas mortes pediátricas em decorrência da infecção, no ano passado, quando comparado a 2021.
Ao todo, 53 crianças entre 1 a 4 anos morreram entre janeiro e dezembro de 2022 por pneumonia. O total representa 13,1% dos 405 óbitos registrados para essa faixa etária ao longo do ano. No mesmo período, em 2021, o estado registrou 12 mortes pela doença pulmona. No ano retrasado, a principal causa de mortes infantis foi a “doença por vírus”.
Para o imunologista pediátrico Celso Sant’Ana, a alta letalidade da pneumonia entre os pacientes mirins é resultado, sobretudo, do retorno da socialização após dois anos de isolamento, período em que as crianças tiveram aulas remotas. Ele explica que durante a quarentena não houve superexposição a bactérias devido ao menor convívio com outras pessoas. O retorno do contato contínuo propicia aumento da transmissão de doenças, ainda mais para um público que tem o sistema imunológico mais frágil.
“Tenho visto isso, em termos de emergência, como se fosse consequência da explosão de casos de virose no período de abril para cá. Na pandemia, as crianças ficaram em casa e praticamente não houve essa superexposição de quando vão para o colégio”, associa.
Vírus e bactérias relacionados à pneumonia podem ser transmitidos através de tosse, espirro, saliva ou contato com objetos contaminados de pessoas já doentes.
A professora Juliana Roullet, 38, acredita que foi pelo contato na escola que a filha, Júlia, 4, teve pneumonia no São João do ano passado. “Ela está com todas as vacinas em dia, o que vinculou foi o retorno das aulas. No primeiro ano na escola, Júlia teve bronquiolite [inflamação aguda nos bronquíolos, estruturas responsáveis por levar ar aos pulmões]. Na pandemia não teve nem espirro. No que voltou às aulas com outras crianças foi infectada”, conta a mãe.
Ela acrescenta que a pequena já estava com tosse há mais de uma semana, foi quando Juliana levou a filha ao médico e alguns disseram ser refluxo, pois não havia secreção ou febre alta. A tosse, no entanto, se intensificou e a saturação de oxigênio da criança baixou. Ao levar Júlia para a emergência pela segunda vez, Juliana viu a filha ser internada e diagnosticada com pneumonia. Ela ficou sete dias na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), com antibiótico venoso. Depois, foi para o quarto hospitalar e, posteriormente, teve alta. Hoje, passa bem e sem sintomas.
Entenda a doença
A maioria das pneumonias são causadas por vírus e podem se complicar quando há a instalação de bactérias, diz o pediatra Carlos Sant´Ana. Para não se tornar um quadro grave, ele orienta a procura por um médico quando a febre for resistente e alta e o paciente já tenha histórico de falta de ar [cansaço] ou comorbidade. Também recomenda o aleitamento materno – responsável pela transferência de anticorpos entre mãe e bebê -, ter hábitos alimentares saudáveis e cumprir o calendário vacinal.
O imunologista pediátrico salienta que o quadro viral de infecções de vias aéreas com evolução para necessidade de internação é minoria. Em geral, são crianças com comorbidades, processos alérgicos, prematuras e calendário de vacinação atrasado que tendem a desenvolver complicações. Para crianças imunossuprimidas, é preciso ter atenção redobrada aos sintomas.
Sarah, 2, filha da coordenadora de clínica médica Luciene Costa, 31, desenvolveu os sintomas típicos. Luciene conta que desde março Sarah começou a apresentar quadro gripal – cuja manifestação se dá por coriza, tosse e falta de apetite -, a criança foi levada ao médico e tratada com expectorante e antialérgico, porém, a crise não melhorou.
“Em 1º de julho [Sarah] teve febre súbita e foi ficando toda ‘roxinha’ de repente, começou a tremer demais, ficou pálida e quase teve convulsão. A gente correu para a emergência. Lá, os médicos pediram exames, foi quando se descobriu que ela estava com pneumonia”, relembra Luciene. Após tratamento com antibiótico e internação, os exames mostraram que a pneumonia foi resolvida, mas a criança teve novos quadros gripais e bronquite.
Vacinação oferece proteção contra pneumonia
Como estratégia para imunização a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Salvador têm realizado campanha de multivacinação. Neste final de semana, a pasta municipal realizou o “Dia D da Multivacinação”, mas o resultado desapontou. Foram menos de 500 doses aplicadas. Ao todo, apenas 490 doses de Multivacinacão + Influenza foram utilizadas.
A coordenadora de imunização, Doiane Lemos, alerta que a cobertura vacinal está abaixo do esperado. “Isso preocupa porque deixa as crianças vulneráveis às doenças imunopreveníveis, prevenidas por vacina, a exemplo da vacina pneumocócica 10-valente. A campanha nacional de multivacinação é uma oportunidade para atualização de caderneta e aumento da proteção”, garante.
A vacina pneumocócica 10-valente (conjugada) é indicada para a imunização ativa de bebês e crianças menores de cinco anos. O imunizante é capaz de prevenir contra doenças como a pneumonia, além de meningite e otite – as infecções e inflamações no ouvido. Segundo a SMS todos as 161 unidades básicas – Unidades Básicas de Saúde (UBS) e Unidade de Saúde da Família (USF) – dispõem da vacina. A partir do mecanismo de busca da Prefeitura de Salvador, é possível encontrar a unidade de saúde mais próxima da sua casa.
A pneumologista pediátrica Paula Tannus afirma que as principais vacinas disponíveis, tanto na rede pública, quanto privada, previnem contra os principais vírus e bactérias que costumam causar pneumonia em crianças. Ela salienta a necessidade de ter vacinação completa, com destaque para a vacina pneumocócica – pneumo10, pneumo13 e pneumo23 -, a vacina anual da gripe, vacina contra haemophilus influenzae, vacina contra coqueluche e mais recentemente as vacinas contra covid-19.
Fonte: Rede Bahia
Comente esta matéria